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Audiodescrição - Conheça um pouco mais sobre essa acessibilidade comunicacional

  • Assessoria de Imprensa
  • 24 de mar. de 2024
  • 7 min de leitura

A audiodescrição contempla além de pessoas cegas e com baixa visão, pessoas com deficiência intelectual, TEA, TDAH e as que estão entrando no período senil 


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Foto: Mariana Dias

A audiodescrição está dentro do contexto da acessibilidade comunicacional, assim como a tradução em LIBRAS. No caso da audiodescrição, o recurso, por meio de equipamento de áudio, individual ou coletivo, traduz imagens em palavras. O equipamento de uso individual costuma ser entregue em espetáculos e, em exposições, ficam disponíveis ao lado das obras. Já o chamado de uso coletivo é, por exemplo, o recurso SAP da TV.


Para produzir este conteúdo, entrevistamos o ator, roteirista e audiodescritor, parceiro do Espaço Kardak, Rodolfo Berini.


Pessoas cegas ou com baixa visão, com deficiência intelectual, TEA, TDAH e as que estão entrando no período senil, se beneficiam da tecnologia da audiodesrição, que possibilita acesso integral a arte, cultura, informação, etc.


Partindo do princípio de que todo mundo quer ter acesso e que esse acesso integral não é um benefício e sim um direito de toda pessoa, com ou sem deficiência, o que a audiodescrição  proporciona é um direito constitucional!No setor cultural é possível encontrar a audiodescrição no teatro, em espetáculos diversos, no cinema, em produção audiovisual, na literatura, facilitando o acesso por meio dos áudio livros, em obras estáticas, em se tratando de museus, exposições, saraus, etc. 


Vale destacar que um livro com áudio descrição é diferente da gravação em áudio somente da leitura da história contada. Como já comentado, a áudio descrição traduz as imagens em palavras, para que a pessoa cega ou com baixa visão tenha acesso às imagens da história contada.


“Tudo o que pode ser visto, pode ser utilizado esse recurso. Não só no setor cultural, mas também na publicidade, em palestras, seminários, simpósios, etc. Enfim, tudo o que pode ser visto, pode ser traduzido; todas as imagens que nosso olho pode captar, pode ser traduzida em palavras para as pessoas que não enxergam.”, explica Berini.


A ferramenta tem se tornado cada vez mais importante tanto no consumo de cultura quanto de produtos e serviços.


“Uma pessoa cega ou com baixa visão, por exemplo, trabalha, consome, paga impostos e tem o mesmo direito da pessoa que enxerga, de saber exatamente o que ela está comprando ou consumindo. Por exemplo, em um site na internet, onde outros sentidos como o tato são inviáveis, a audiodescrição vem democratizar esse acesso integral e esse direito da pessoa com deficiência visual, de saber o que está comprando.”, comenta o ator e audiodescritor Rodolfo Berini. 


Audiodescrição na prática 

A ferramenta é um recurso de acessibilidade que permite que os profissionais consigam traduzir imagens em palavras. Por exemplo: em uma audiodescrição de uma fotografia, ou seja, uma obra estática, o início é como se estivesse escrevendo em língua portuguesa. De cima para baixo. Da esquerda para a direita. “Então a gente começa a descrever, para melhor entendimento, nesse formato.”, comenta Rodolfo. 


Porém, existe a possibilidade de começar com o que mais chama atenção da pessoa que irá fazer a audiodescrição. Ou ainda, com o que está em primeiro plano. Ou em segundo plano. A tradução pode começar a partir da imagem pela ação que está sendo desenvolvida. Mas, segundo as explicações do Rodolfo Berini, descrever uma fotografia pode seguir basicamente a sequência: personagem/ pessoa que está na fotografia - o que ela está fazendo - onde. Ou seja: a personagem, a ação e o cenário.


A audiodescrição de obras audiovisuais segue o mesmo formato. Mas como as edições estão cada vez mais dinâmicas, segundo Berini, isso dificulta um pouco o trabalho da pessoa que faz a audiodescrição.


“Então o que temos feito é a descrição do que é estritamente necessário para que não atropele os diálogos dos personagens. Geralmente isso é a ação da cena, que é o que está acontecendo e é o que vai dar mais entendimento para as pessoas que estão assistindo. Se sobrar algum tempo, a gente descreve personagem, cenário, segundo plano, iluminação, etc. Mas ao meu ver, o mais importante no audiovisual e em espetáculos, que é onde a gente costuma ter menos tempo, por ser tudo muito dinâmico e orgânico, é realmente a ação que as personagens estão realizando.” 


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Foto: Rodolfo Berini

Já quando uma pessoa visita um museu, com acessibilidade comunicacional - audiodescrição, ao lado da obra costuma ter um fone com uma gravação ou um QR Code, que leva a pessoa para um link que tem a gravação da audiodescrição daquela obra. Nesse caso, segundo Berini, é possível descrever a obra com todos os detalhes.


Audiodescrição na Web

Os conteúdos da Web seguem um pouco o dinamismo do audiovisual, porque o hábito de rolar o feed é quase universal e é tudo muito rápido, as pessoas querem a informação.


Então para a internet, Rodolfo Berini julga que a descrição deve ser um pouco mais enxuta, para que as pessoas não fiquem 3 minutos ou mais naquele card ou foto, ouvindo o leitor de tela falar sobre o conteúdo.


“Nas redes sociais, por exemplo, a gente posta um vídeo editado já com essa faixa de áudio, da audiodescrição, no próprio post. Ou, fazemos a legenda #paratodosverem - nessa legenda fazemos a audiodescrição do que está acontecendo no vídeo; ou se for um card estático, fazemos a audiodescrição dessa imagem estática, de maneira dinâmica. Por exemplo, não vamos descrever tipo de cabelo, cor de olho ou roupa. A não ser que essa informação seja relevante com relação ao conteúdo. Mas na web a audiodescrição é o mais objetiva possível com foco na informação da divulgação.” 


Na TV e no Cinema, Rodolfo explica que, pela tecla SAP é possível selecionar a audiodescrição. Devido ao dinamismo da edição, é descrito apenas o necessário para o entendimento do espectador. Nos espetáculos ao vivo, é feita a chamada audiodescrição simultânea. O profissional assiste aos ensaios, estuda o espetáculo por meio de vídeo. Lê o roteiro. Conversa com a produção, diretor, atrizes, atores e, com o uso do fone, quem precisa do recurso, escutam a audiodescrição. “Fazemos o possível para não atropelar a fala das personagens durante o espetáculo, tentando acompanhar os momentos de improviso e interação com o público.” 


Com o audiovisual o trabalha com a minutagem auxilia profissionais a não atropelar os textos dos atores e das personagens.


“No teatro e no audiovisual sempre posso, faço um roteiro, ou um pré-roteiro para tentar colocar a audiodescrição entre a fala das personagens e não atropelar muito. Claro que no teatro acontece, porque tem muito improviso, principalmente na palhaçaria, que tem muito caco, então às vezes acontece. Mas a gente tenta evitar e não intervir no texto das atrizes e atores.”


Brasil em números - Acessibilidade para quem?

Levantamento do IBGE aponta que o número de idosos no Brasil cresceu mais de 57% em 12 anos. De acordo com o Ministério da Saúde, estima-se que no Brasil, cerca de 2 milhões de habitantes são autistas. O TDAH - Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade é uma condição do neurodesenvolvimento que, segundo dados da ABDA - Associação Brasileira do Déficit de Atenção, afeta cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil.


Estudos indicam que a audiodescrião também é um recurso que auxilia pessoas com deficiência intelectual, TEA, TDAH, pessoas que estão entrando no período senil. “A audiodescrição nesse caso, associada às imagens que essas pessoas estão vendo, contribui no entendimento para que essas pessoas possam absorver melhor e mais facilmente o conteúdo. Então não é só para pessoas cegas e com baixa visão, mas abrange também esse outro perfil de público.”, explica Rodolfo.


Uma publicação do portal do Senado Federal noticiou em maio de 2023 que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há 506 mil cegos no Brasil. Essa parcela da população, ainda de acordo com a publicação, historicamente tem à disposição uma baixa oferta de material de leitura.


Rodolfo Berini comenta que a audiodescrição é tão importante quanto o Braille, que muita gente acredita estar caindo em desuso. Mas o ator e audiodescritor destaca que o Braille é a ferramenta oficial de alfabetização da pessoa com deficiência visual, logo, não existe isso de “cair em desuso”. Berini explica ainda que a audiodescrição democratiza e facilita o acesso, mas jamais substitui a alfabetização e ressalta ainda que o Braille ensina a soletrar, a escrever, o alfabeto, as letras, os números, sendo a língua escrita oficial da pessoa com deficiência visual. “A audiodescrição vem para somar, dar mais qualidade de vida e cor para o universo da pessoa cega ou com baixa visão.”, poetiza o ator.


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Foto: Instituto Itacolomi - Vinhedo

A melhora da acessibilidade comunicacional no Brasil

Após 2023 com a ascensão da LPG - Lei Paulo Gustavo, que colocou a acessibilidade comunicacional como obrigatória nos projetos, a pauta da acessibilidade comunicacional tem ganhado lugar ao sol. Ou melhor, tem sido estrela nos holofotes das mídias.


“Antes já havia uma certa obrigatoriedade para ProAc, ICMS, Lei Rouanet…Tipo uma cota. Mas era mais branda. A fiscalização era mais relaxada. Porém, vejo que muitas empresas estão aproveitando esse momento para se estabelecerem nesse segmento, que tem crescido também no sentido de prestar o serviço de acessibilidade comunicacional.” 


Principalmente na área cultural, tem acontecido um aumento devido à obrigatoriedade das leis de incentivo à cultura. Outro ponto é que, depois dessa obrigatoriedade, as pessoas passaram a conhecer mais e procurar saber mais sobre a acessibilidade comunicacional. Aos poucos a consciência das pessoas se expande e a inclusão acontece. Mais uma escalada positiva a respeito disso é quanto aos artistas com deficiência, que estão conseguindo ter acesso a esse espaço, sendo protagonistas de sua arte. Além de estarem recebendo mais convites para fazerem parte dos castings e elencos.


Vale lembrar que para realizar o trabalho de audiodescrição é preciso seguir as normas da ABNT. “Eu trabalho com um audiodescritor consultor, que é uma pessoa cega. Então eu faço um roteiro, mando pra essa pessoa, que é um profissional da audiodescrição também, com protagonismo, e essa pessoa consome o conteúdo e faz as correções pertinentes, devolve e só depois esse roteiro vai a público. Trabalhar junto com as pessoas com deficiência é o caminho. Como diz April D'Aubin - Nada sobre nós, sem nós.” 


Pessoas com deficiência existem em sua totalidade. São pessoas jovens, que trabalham, que produzem, que consomem, que têm sexualidade ativa.


Por fim, uma reflexão importante. Você já parou para se perguntar quantas pessoas com deficiência você conhece? Quantas pessoas com deficiência frequentam os lugares que você frequenta? Quantas pessoas com deficiência tem na sua família? Você tem contato com elas? Você vai a um restaurante com essa pessoa? Você vai a um cinema, ao teatro? Enfim, você convive com pessoas com deficiência?


 
 
 

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